sábado, 17 de agosto de 2019

E então no meio de um filme,numa tarde comum eu tive uma catarse "acho que a gente se perdeu" foi a frase ouvida na tv,que me fez pensar naquilo durante um dia inteiro e me fez ver que era a hora de escrever sobre.

Lembro que a uns dias atrás eu tinha ouvido de uma amiga a seguinte pergunta "quem foi a pessoa mais incrível que você já se relacionou?" E eu disse "ninguém" ela ficou me olhando e eu falei "veja bem,isso não é um discurso na qual agora vou começar a detonar todos que passaram por mim,mas pra eu considerar alguém incrível,ele teria que ter feito algo que ainda ninguém fez:permanecer". Tem cerca de 3 meses que eu saí da última relação que eu tive e a catarse que eu vivi em relação ao filme me levou a lembrança das diversas tardes na qual eu chorava,emocionada pelo momento,e dizia no mais auge da minha escolha de amar "não quero nunca que a gente se perca".Assim como as vezes em que rindo e brincando tendo consciência do quão raro era aquilo eu falava a mesma frase.E naquelas pequenas palavras eu sabia exatamente o que eu queria dizer.Foi o que ocorreu.Nos perdemos.Os banhos juntos rindo,as piadas internas de quando o sabonete caia no chão,as receitas,os vídeos,as tardes de intimidade infinita,as primeiras vezes de tantas coisas juntos,as apostas de corrida,o fone dividido,as trocas  de foto,os elogios quando via o outro arrumado,os apelidos carinhosos.Tudo se perdeu.Perdeu pra raiva,pra o orgulho,pra o ego,inflado,ferido,pra o egoísmo,pra o medo,pra opinião alheia.Tão menos em quantidade os contra mas tão suficiente pra perda.E esse, exatamente esse,era meu medo.Lá da primeira vez que nos perdemos,em nossa reconciliação eu comecei a chorar e não conseguia mais parar,assustado ele me perguntou o que houve e eu disse,sem pensar duas vezes,tão eu,tão 100% ali,"eu não queria ter tido isso com mais ninguém"e por trás daquilo eu tinha medo de dizer em voz alta "eu não queria ter me perdido de você,meu menino".O medo me segurou naquele momento,o medo de quando eu não tive mais você construindo comigo e das vezes que chorei relembrando as brigas ou sua falta de sensibilidade quando disse que tinha tido o bastante de mim pra saber que não era aquilo que queria,"eu só quero ser feliz".Ali eu já sabia que muita coisa se perderia mais e mais e por dentro eu gritava,esperneava e chorava implorando que você me achasse de novo.Que seu olhar de ternura durante o ato sexual voltasse e que eu não perdesse a vontade de ter isso com você por não me sentir mais bem tratada (eu sentia coisas que acho que você nem desconfiava).Parece que o fato de eu ter tido aquilo com outras pessoas já surtia mais efeito em você do que você dizia.Eu disse em um desabafo um dia sobre sexo "acho que banalizou pra mim em forma de mecanismo de defesa de tanto que sofri por isso" e ouvi semanas depois "ué,mas não banalizou pra você?",a conexão de entender o outro e as feridas,também haviam se perdido,me vi sangrando sozinha.Eu não te alcançava mais,você já não me via.O ponto alto chegou:"eu te amo" no mesmo compasso que chamar uma pessoa pra ter relações sexuais.Então a dor suprema,me perdi de mim.Cortes,remédios,depressão.Aquilo escancarou alguém que já não estava mais ligando pra mim e me olhou com um olhar de "é isso aí mesmo,não tem muito o que dizer"e não teve flores,não teve um pedido de perdão,"até sei como consertar as coisas,mas e isso e aquilo" amigas próximas confirmando que realmente não devia me amar mais.Até que eu explodi e decidi sem avisar que seria a última vez,dessa vez não atender o telefone não seria questão de tempo,e ao ouvir um "eai,já pode conversar?" Como se eu tivesse a obrigação daquilo.Não faria mais parte do meu roteiro reagir com mansidez a sua falta de serenidade,novamente sem avisos de que ali seria pra sempre,eu disse não.Eu precisava me reencontrar.Depois de uma viagem reuni minha calma e fui resolver isso,agradecida por tudo,ainda com nós no estômago de quem por dentro gritava "eu te amei até o último segundo e como você pode abandonar a mim,meu menino",eu disse obrigada,expliquei meus motivos e não fui recebida bem.Sangrou de novo,chorei de novo,mas fui forte.Nos perdemos.Hoje? Eu segui todos os conselhos de todo mundo,porque os meus de permanência pareciam não fazer mais sentidos pensados sozinho.Fui em busca do bem estar,de trabalhar,de estudar,de focar em mim.E com o tempo passando responder que eu estava bem saia de forma tão natural,que eu vi que sim,ficar bem,feliz é muito fácil.Difícil é escolher amar e não se perder.Em quantas camas eu já deitei? Em quantas camas você já deitou? Quantos corpos? Quantas bocas? Hoje você já namora? Já ama? Se eu já namoro? Já amo? Começou a contagem,recomeçou.Quase namorei duas vezes desde que tudo acabou,e não aconteceu por diversos motivos,dentre eles eu não estava pronta pra construir ainda.Mas após uma semana sem contato com o mais recente eu ouvi "você me descartou com muita rapidez,eu realmente amei você".E assim eu termino meu texto,eu não descarto com rapidez,não esqueço com rapidez.Não,eu não esqueço,aqui dentro de mim,tudo isso vai pra uma área e não é a área de visitações de lembranças mas é a mesma área onde estão as frases de todos que foram embora pela mesma porta.Para os que nunca tiveram a ousadia de fazer a diferença permanecendo que tenham todos o mesmo destino,eu mereço a licença poética nesse momento pra generalizar.

No fundo,nos perdemos todos.E eu sei toda dor que enfrentei por cada perda.Ainda não sei como ser a menina da "escolha de amar" de novo.Por enquanto estou escolhendo me amar e cicatrizando cada ferida.

Eu estou bem e sei que você também,de alguma forma aprendi a habilidade,em um domingo contigo no telefone que eu era um peso em tua vida e agora não estou mais nela.Esta tudo bem por isso,pra alguém eu hei de ser o alívio e você,terá o teu também.


quinta-feira, 20 de junho de 2019


Já reparou que quando você sai da praia é muito difícil a areia sair do seu pé?

Eu lembro que estava um longo silêncio antes de ouvir aquela fatídica pergunta: "Kim,qual o seu medo?".Sabe,eu queria responder de supetão :baratas,altura,aranha,ou qualquer outro desses medos que as pessoas costumam falar.Mas a questão é que nenhuma dessas coisas eu tenho medo,eu adoraria ter pavor de alguma dessas coisas,mas o meu medo vai um pouco mais além.Vamos lá,eu sempre fui muito feliz sozinha.Sempre adorei estar dentro do mar em cima da prancha longe de todo o crowd e ficar ali por pelo menos 1 hora e meia.Amo me trancar no quarto e ouvir várias músicas enquanto fico arrumando minhas coisas.A palavra solidão nunca me assustou,rir sozinha,gritar sozinha,chorar sozinha,curtir sozinha,sempre foi tão bom pra mim.No vendaval que eu sempre fui,dançar na tempestade sozinha era incrível.A real é que meu grande medo é que nunca tenha alguém que veja isso.Que admire o fato de eu rir sozinha e dos meus dois dentes da frente não serem tão sincronizados.Eu morro de medo de não ter alguém que perceba que eu só lavo louça ouvindo música no fone,ou que eu tenho uma mania surreal de só dormir de meia.Eu morro de medo de não ter alguém que queira morar nas minhas peculiaridades.Morro de medo de ter alguém que desconfie tanto de mim que me traia em nome de insegurança e ego ferido.Morro de medo de que ao se deitar comigo fique pensando mais em com quem eu me deitei do que eu estar escolhendo estar ali e caramba essa área de mim já foi tão ferida.Eu via como um presente e pra quem eu dei,pra quem eu me dei,foi embora pela mesma porta que todos foram.Tenho pavor de por falta de aprovação dos que estão perto ele desista de mim.Começo a tremer só de pensar que ele não sonhe em me ver de branco e que chore quando me veja entrando pra caminhar até ele,rumo ao nosso futuro.Tenho medo de a noite quando deitarmos e vermos filmes de terror ele não entender que eu gosto de tampar o olho mesmo amando esse gênero de filme.Tenho medo dele não admirar o fato de eu trata-lo como se ele fosse o homem mais perfeito do mundo pra quem está de fora,pra ele se sentir sempre valorizado,como fiz com todos e no final de tudo,ele não fazer jus a isso.Tenho medo que ele não lute incessantemente por mim quando as coisas ficarem difíceis e opte por me eliminar.Tenho medo que ele seja do tipo "vamos terminar e nos reencontrar mais maduros" porque na real,ele só não quer se dar ao trabalho agora,somado ao fato de que quer se entregar ao mundo.Sabe,eu tenho medo dele não querer mais construir ao meu lado,que ele não me enxergue e veja que num mundo vazio eu sou a garota que surfo no profundo,eu tenho tanto medo dele achar bobeira eu adorar museus e gostar de coisas tipo picles e mostarda.Eu tenho medo dele não estar ali quando estiver chovendo e frio e eu não possa deitar no peito dele e pensar "eu sou amada e admirada".Mas eu enfrento esse medo com fé,então meu amor,meu grande homem,eu sei que você está aí,em algum lugar,esperando por uma garota que é feliz sozinha mas que quer transcender ao teu lado,eu sei que já te machucaram tanto que tu não acredita mais que exista amor no mundo,mas eu estou aqui,nós vamos cuidar um do outro,vamos nos beijar no final da briga,quando os anos passarem e estivermos tendo crises horríveis de não se suportar,vamos saber que o outro está ali,nós não vamos nos deixar,e Deus será conosco.Ainda que o mundo estiver contra nós,estaremos unidos em uma só carne.Já estamos debaixo do mesmo céu,e tu vai descobrir assim como eu,que dividimos o mesmo amor pela lua e pelas estrelas.Quando nos conhecermos,vamos aprender o significado de permanecer e nada será maior do que nossa vontade de estar ali.Eu te mandarei embora no meio de uma briga,e tu vai segurar meu rosto e dizer que quer de alguma forma se reinventar pra me entender,porque sabe que no dia a dia eu sempre farei isso.Entre nós não existirá isso de acabar e voltar,porque você terá o mesmo medo que eu,e não será de baratas,de altura ou de aranha,mas o de não ter mais alguém que veja nossa dança na tempestade.

Lembra como esse texto começou,que eu perguntei sobre a areia no pé? Eu sei,não teve nada haver com o resto do texto,mas foi isso que eu respondi quando me perguntaram qual era o meu maior medo,eu simplesmente fugi da pergunta.Sim,eu fiquei apavorada.

quarta-feira, 12 de junho de 2019

Oi Kim,eu sou você daqui a 6 anos e nesse dia tão especial eu vim te escrever uma carta.

Está tudo bem, vem cá,chega,pode deitar aqui,a fase de testes passou.

Você tem 29, já tem sua casa,é formada e seu grande sonho de subir no altar finalmente se realizou.Você estava linda de branco,e o vestido escolhido,caramba,ficou tão perfeito em você,parece que ele sempre esperou por você. Seus votos dariam um roteiro de um filme de amor,todos se emocionaram quando ouviram os votos do seu amor também. O sol naquele dia estava tão calmo,tão perfeitamente quente que parece que planejaram uma estação com teu nome só pra te esperar. Seguraram tua mão e te deram um beijo tão bom,tão verdadeiro e tão puro que naquele momento o mundo morreu ao redor.Aquele filme clichê que você assistia a 10 anos atrás (amanhecer),parecia que se realizava na sua cabeça,e de repente você cantarolava mentalmente "i love you for a thousand years".Tudo foi perfeito kim,tudo foi como você sonhou.Quando você estava no altar ouvindo o que sempre quis ouvir só que dessa vez direcionado a você,sua mente voou longe,pra aquela menina que aos 13 tinha ouvido da mãe a primeira vez "calma filha,dói,mas passa,se for pra ser um dia volta",se lembrou que aos 16,19 e 23 ouviu a mesma frase e se emocionou porque viu que esteve sempre certa : o amor de verdade não volta,porque na verdade,ele nunca foi.No seu casamento você ouviu sobre Deus e seus convidados diziam o quanto sentiam a presença de algo bom ali.Você lembrou de quando tinha 23 e chorou vendo a foto dos seus avós que haviam sido casados por 55 anos e se perguntou se um dia viveria aquilo.Sua rotina de todos os dias mandar as mesmas mensagens não são um peso pra quem está do seu lado hoje,seu desejo de levar a mesma rotina por anos,de mandar as mesmas mensagens é valorizado e ressaltado,você não se sente mal por cobrar e adivinha? Não é visto como cobrança,sim calme.Respire um pouco agora,fundo.As surpresas que teu amor te faz não é o que mais te encanta,mas sim a permanência dele.Hoje quando você ouve que é amada não é de alguém que vai embora e deixa pesos em você,como se te amar fosse um fardo,mas é um amor de permanência de "qualquer que seja o problema,eu nunca sairei daqui".Você surfa mais do que em qualquer época da sua vida,e horas no mar são sua maneira de meditar.Sua casa é linda e na geladeira da sua casa,como você sempre sonhou tem um mini quadro de afazeres do casal no dia a dia.Você sente segurança pra uma eternidade e a forma como você sempre reinventa a relação criando surpresas e promessas é visto como sua maior qualidade.Ninguém mais passou a apenas ver você,agora te enxergam.Você nunca entendeu porque viveu relacionamentos pra acabar e porque você era sempre a que no fim de tudo resistia,hoje seu marido pensa igual.Ele quer uma eternidade ao seu lado e você sente isso.No final do dia ele te faz sentir que não há nada melhor do que verem filmes juntos,ele entende sua paixão por clichês.Em cima da mesa da sala quase sempre tem flores,ele sabe da sua mania de cheirar as pétalas e ficar fazendo carinho no seu próprio rosto com elas,parece que você sente todo amor que tem nas rosas e sempre quer passar esse amor pra você.Você assiste sex and the city e pensa como ainda mantém as amizades da época da faculdade e do seu trabalho e como um dia viu esse filme tantas vezes chorando.Por aqui deu tudo certo,Kim.Eu estou nesse momento em uma cafeteria tomando nosso sabor preferido de frapuccino,o mocha branco e precisei parar a rotina,a linda rotina que temos,pra te dizer que vai ficar tudo bem,sei que toda noite mesmo com muito sono você dizia a Deus "estou entregando tudo nas suas mãos,cuida de mim" e quero te dizer que ele cuidou,você se tornou gigante,venha com calma,continue tendo esperança no amor, você está lidando da forma correta,a sua coragem de enfrentar a dor agora é o que te fará se curar dela logo logo,se feche e passe quanto tempo for preciso imersa em si,o mergulho em si mesma te fará chegar a mares indescritíveis.

Nós estamos orgulhosas de você,tanto a Kim do passado como a de hoje.

sexta-feira, 25 de novembro de 2016


Quando eu separei a prancha de manhã levei junto a decisão de que seria hoje que eu iria falar de você pra o mar.
Antes de tudo : Odeio o fato da nossa música - a única música que tivemos - ter sido último romance do Los hermanos .Essa ironia do destino me irrita.
Quando cheguei na praia , molhei os pés , fiquei me alongando e pensando que pra quem sonhou com uma longa história, se contentar com 21 dias foi injusto.
Entrei no mar e naquele mormaço de dia amanhecendo comecei a falar com ele que você tinha sido o meu sonho mais verdadeiro, o que eu merecia , o que eu não sabia que existia, a minha vontade de finalmente tentar, que por você larguei o mundo e largaria quantas vezes você quisesse, que você tinha sido três dias de sonhos seguidos, e que era seu rosto no rosto de todos os caras . Em mim toda, só dava você.
Eu já nos via no final das brigas se olhando, rindo, eu pulando em você e ficando com o rosto colado no seu, a gente se olhando e pensando "sim, esses somos nós e nós criamos isso" e a gente se orgulhava tanto.
Pensamos e planejamos tão intensamente que você é vivo demais em mim, de forma que eu ainda ouço seu jeito de respirar enquanto conversa algo sério. - É bom virar pra areia e ver ela de longe , nesse único momento eu posso gritar a vontade e socar a água - cara , que droga.
Falei a história no passado , mas você finge que ta no presente , eu sei , nunca aconteceu o que conversamos tanto nas madrugadas, mas o bom é que na nossa cabeça aconteceu , quase , foi quase ,chegamos perto , quase que a gente criou um nós , quase que fomos eternos. Hoje eu fico aqui , nesse fim de tarde falando comigo mesma , deitada nessa prancha e pensando que esse mar parece maior do que é sem você e que você tinha que estar aqui , nós tinhamos que ter sido nós , mas deixamos que o nosso eu - cheio de medos - fosse maior . E esse drop não rolou pra gente.

Sento na prancha de novo e falo pra o mar como se fosse pra você , confiando que ainda temos a mesma sintonia : Eu to te guardando aqui, e eu prometo que naquele um minuto do caldo que eu submergir vou lembrar do teu rosto. Não vai ter onda que apague teu sorriso.


Foi difícil a beça ir embora da praia hoje.

domingo, 14 de agosto de 2016


E , sozinha

Do jeito que eu gosto , do jeito que eu quero. Foi todo mundo , deixaram porta aberta , janela quebrada , banheiro molhado , impressionante. Nem licença pra entrar pediram , vieram correndo , saltando , brincando. Ficaram , se deleitaram , riram , boiaram , algumas vezes reclamaram. Cansei todo mundo , ouvi tantos desabafos , limpei muita gente , limpei alma , limpei olhos , lavei histórias , dei novas páginas , renovei. No final do dia me deixaram , fiz o céu minha companhia , fiz do sol despedida , fiz da lua o que tinha. Fiquei só , com a noite toda minha. Reclamei com ressacas , chorei com correntezas , fui grande pra chamar atenção , mas de dia cansei e fui recepção de novo. Tô aqui , posso te ouvir , te fazer ficar melhor , ser calmaria ou turbulência se você precisar disso. Mas estou sozinha , vim pra ser isso , sou isso. Sou alívio , mas não aliviada.


Somos eu e você mar , somos iguais e somos um só.

sexta-feira, 2 de outubro de 2015



Essa semana eu vi uma árvore seca na rua. Com alguns resquícios de flor , quase imperceptíveis , eu vi em minha mente um quadro imaginário que dizia nela "Aqui jaz alguém que já foi lindo." Lembrei de você.

Se eu te disser que posso provar que existe uma beleza incrível naquelas árvores que um dia já tiveram lindas flores , você me deixa fazer isso do teu lado? Veja bem , não entro em argumentações para perder , preciso estar próximo a você para te deixar ver nos meus olhos a intensidade do que falo, a viagem vale a pena e o percurso é como estar no banco de trás de um carro ,com janelas abertas e aquela vista de montanhas nubladas. Então , agora , você fecha o olho -para já já abri-lo quando eu disser- e deixa que meus pés te gelem de surpresa para você sorrir e ver que o assunto é leve. Te contarei sobre o início da primavera ,vou falar que ela vem devagar ,lentamente , dia após dia , inicialmente você nem presta atenção e quando menos espera tem belos contornos nas árvores , coloridos e exalantes de cheiro. Daqueles que te fazem esquecer do inverno que um dia houve ali. Você deve sorrir nessa hora , deve associar o que digo a lindas paixões que teve , que vieram de surpresa , daquelas sem avisar, que são as melhores possíveis. Vou me aproximar e deixar que você sinta meus lábios no seu pescoço esboçando um sorriso. Me afastarei e contarei que quando menos se espera , as flores se vão, o perfume se vai e a cor , já não fica mais tão atrativa. Talvez você se lembre de fins de paixões e isso te toque tristemente.Vou pedir que você abra seus olhos e vou olhar dentro deles , vou te falar que aqueles galhos são lindos porque esboçam a resistência do fim e a abertura ao novo. Te farei entender que as flores são epifanias e que elas vão e vem a todo momento , mas que os galhos são a firmeza mais bonita que existe. Quando eu te mostrar que serei tua resiliência em meio a esse cáos ,vou me calar e olhar por mais uns 5 segundos no teu olho, após esse tempo vou dizer que a viagem chegou ao fim , mas que se você quiser , ela pode estar só no começo .

quinta-feira, 24 de setembro de 2015



Recebi em casa semana passada um envelope bonito que dizia em letras garrafais "você foi contratada para fazer bicos inconstantes."

A escrivaninha de madeira tinha sido um dos primeiros itens que eu havia comprado para a minha casa. Eu sabia que mesmo que não fosse um utensílio de vital importância eu imaginava que ali seria o local dos meus expurgos. Constatei que isso fosse importante. Sobre aquela mesa de frente para a janela que pintava o céu de 22:00 mais bonito que eu já havia visto em um ano de moradia ,eu analisei aquele papel que havia recebido. A minha direita me distrai por alguns minutos com o desenho que a umidade do copo com água havia feito no guardanapo.  Achei lindo. Voltei a olhar para o papel. Peguei uma tesoura e comecei a cortar a borda. Sem muitas delongas tirei o papel principal que estava todo majestoso , com um "X" indicando aonde eu deveria assinar para compactuar com aquele serviço. Eu que sempre fui inconstante gostei da proposta,quando procurei a caneta desviei meu olhar para a janela de novo e me perdi novamente naquele céu . Apoiei as mãos no queixo e fiquei olhando como uma criança olha para algo gostoso que esta sendo cozido. Larguei a caneta e tomei uma decisão . Comecei a fazer um avião com o contrato majestoso , quando ele estava pronto abri a janela e joguei céu a fora. Por segundos observei ele indo longe.
Naquela noite eu decidi despir meu coração e deixar ele livre para amar quem quisesse e eu começaria amando aquele céu.